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A jornada teológica da área II e o centenário da missão anglicana japonesa no Brasil



Como poderíamos cantar o cântico do Senhor em terra estrangeira? (Sl 137.4)


Não poderia ter sido mais diversa a Jornada Teológica organizado pela Área II (Dioceses de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná) e coordenado pelo Centro de Estudos Anglicanos (CEA), ocorrida nos dias 7 a 10 de setembro na cidade de São Paulo, com a participação de cerca de 50 pessoas. O encontro teve como tema “Missões Étnicas” e começou com uma celebração que contemplou símbolos de diversas etnias e culturas representadas ali por meio dos participantes que vieram de vários Estados e países, trazendo elementos de suas origens. Como palestrantes, além da revda. Carmen Kawano, de São Paulo, e do rev. Gustavo Oliveira, da Diocese do Recife, recebemos visitas internacionais, convidadas da Diocese de São Paulo.



A Jornada Teológica


Recorda-se que neste ano a nossa Igreja celebra o Centenário da Missão Anglicana Japonesa no Brasil. Desta forma, as reflexões no evento partiram da apresentação da experiência brasileira com essa missão étnica, que começou em 1923, com a vinda do missionário João Yasoji Ito e a acolhida calorosa do então Bispo Lucien Lee Kinsolving para a evangelização de imigrantes japoneses. A partir desse legado e de experiências atuais, num momento em que o movimento migratório acontece como nunca no mundo, como podemos pensar hoje a missão entre grupos minoritários? Essa foi a proposta do encontro.


Ouvimos experiências e histórias pelo mundo. A revda. Irene Tanabe, representando a Igreja Episcopal dos Estados Unidos, trouxe a sua experiência pessoal como missionária em Okinawa, Japão, mas também a sua experiência como membro da Comissão Permanente de Missões Mundiais da Igreja Episcopal dos Estados Unidos, e do Comitê Bilateral da Igreja Episcopal dos EUA e da Igreja Episcopal nas Filipinas. Anteriormente ela serviu no Conselho de Ministérios Asiáticos da Igreja Episcopal e no Comitê Bilateral com a Igreja do Brasil. Mas, principalmente, Irene nos sensibilizou com a sua vida como descendente de japoneses nos Estados Unidos. Foi ela que nos lembrou do Salmo 137, em uma versão de Bob Marley, e das complexidades de viver como se fosse estrangeira em seu próprio país. Mas em vez de ‘By the rivers of Babylon’, Irene nos ensinou a cantar e dançar o Bon Odori (dança tradicional japonesa do festival budista de gratidão e respeito aos antepassados), mas com a letra adaptada para a fé cristã ⎼ ‘Kirisuto no Heiwa’ (A Paz de Cristo), do hinário da Nippon Sei Ko Kai, desejando que a Paz de Cristo habite em nossos corações.



O rev. Satoshi Kobayashi, representando a Nippon Sei Ko Kai, nos falou das atividades desenvolvidas na Diocese de Osaka, Japão, com estrangeiros e refugiados, e das dificuldades atuais em seu país com a tendência política e social de exclusão e rejeição de grupos minoritários.


O rev. Daebin Im, de ascendência coreana, clérigo da Diocese de Osaka mas atualmente servindo na Igreja Anglicana do Canadá, na Holy Cross Church, uma comunidade de nikkeis canadenses em Vancouver, nos falou sobre ser coreano nascido no Japão e também sobre as atividades desenvolvidas por sua comunidade étnica atual.


Ouvimos em seguida, através do rev. Luiz Carlos Gabas, a experiência da Paróquia da Ascensão em Cascavel, PR, principalmente no apoio a imigrantes do Haiti; e as atividades da Comunidade da Reconciliação em Joinville, SC, na acolhida a mulheres imigrantes e refugiadas, principalmente vindas do Haiti e Venezuela, e também migrantes vindas de outras regiões do Brasil, trabalho este realizado com parceiras ecumênicas e coordenado por Paula Mazzini e Deyse Porto, duas jovens lideranças leigas.


O rev. Gustavo Oliveira auxiliou na reflexão e partilha, nos conscientizando de nossas marcas coloniais como cristãos e brasileiros, desde o tempo de Jesus na Palestina sob o império romano, e as subjetividades que persistem nessa pós-colonialidade.


A celebração de encerramento aconteceu na Catedral da Santíssima Trindade, com partes lidas ou rezadas em japonês, inglês, espanhol e coreano. A Saudação da Paz aconteceu ao som da canção “Kirisuto no Heiwa” (A Paz de Cristo), que já havíamos aprendido anteriormente.



Posteriormente, a rev. Irene comentou que gostou da discussão teológica sobre pós-colonialismo, e se impressionou com o uso das redes sociais e com a participação de jovens anglicanos e seu entusiasmo pela missão. “Aplaudo o esforço do trabalho com imigrantes no acesso a serviços e também no incentivo a eles para se organizarem. Saí dessa experiência pensando que nós, na Igreja Episcopal, temos muito a aprender com a abordagem da Igreja do Brasil na missão. E, claro, as liturgias e as canções estavam em perfeita sintonia com essa energia! Amei a Oração da Noite e a dança no domingo na Catedral. Foi realmente um encontro maravilhoso, com partilhas, aprendizados e oportunidades de confraternização.”


Rev. Satoshi Kobayashi, que há 3 anos envia mensagens dominicais para as comunidades de língua japonesa da IEAB, disse ter se impressionado com as iniciativas brasileiras relacionadas às questões de gênero e sexualidade e com as iniciativas atuais voltadas a imigrantes e pessoas de diferentes etnias. Além disso, falou: “me sensibilizei com a questão do desafio pós-colonial, me emocionei com a postura brasileira de ouvir a voz das minorias, e me senti motivado a trabalhar em solidariedade, caminhando juntos nesse sentido”.


De volta à sua comunidade no Canadá, o rev. Im falou, em seu sermão, que no evento no Brasil, havia um cacho de bananas enfeitando o local ⎼ “um cacho com bananas de variados tamanhos e formas, e o cacho era como aquele grupo de pessoas participantes, que se acolhem e se respeitam como são, na sua diversidade, e se tornam um em Deus. Com o tempo, as bananas foram se tornando amarelas, e as pessoas as colhiam e comiam. Fiquei olhando as bananas e pensando se Jesus tivesse passado pelo Brasil, teria falado delas e não de uvas. Talvez diria: Vejam essas bananas no cacho. Cada uma é diferente da outra, mas vêm de um mesmo pé. Vocês também vieram de um mesmo pé. Por isso, aprendam uns com os outros. Cuidem-se e sejam pessoas que partilham.”


Nossos agradecimentos à Igreja Episcopal, à Nippon Sei Ko Kai e à Igreja do Canadá pela participação muito enriquecedora de seus representantes nesse evento que pretendemos que seja a continuidade das relações amistosas, e na esperança de que todas as pessoas possam cantar com alegria as canções do Senhor, em todos os lugares da terra.



Pedalada e Caminhada do Centenário da Missão Japonesa


Antes do início da Jornada Teológica, as pessoas visitantes puderam participar da Pedalada e Caminhada em comemoração ao Centenário da Missão Japonesa, organizada pela Paróquia de São João, pela manhã do dia 7 de setembro, feriado nacional da Independência do Brasil. Após um aquecimento coordenado pela revda. Sachiko Tamaki, foram 4 km de deslocamento pela Av. Faria Lima, observando árvores, flores e passarinhos, conversando e se conhecendo uns aos outros. Na chegada, um delicioso brunch de confraternização fechou o evento.




Celebração do Centenário da Missão Japonesa e 70 anos da Capela de São Lucas, em Londrina, PR


Uma semana após a Jornada Teológica sobre Missões Étnicas, a Paróquia de São Lucas em Londrina, PR, com a bispa Magda Guedes, revda. Selma Rosa e comunidade, celebrou alegremente as muitas bênçãos recebidas durante longos anos e fez memória das pessoas que constituem a história da presença anglicana na região.


A história é de visitações em casas de imigrantes japoneses, a partir da década de 1930, pelo rev. João Yasoji Ito, as visitas episcopais do bispo William Thomas, e o trabalho de várias pessoas, principalmente do rev. Paulo Yuji Kaneko e família junto à comunidade.


Estiveram presentes na celebração famílias e membros antigos, assim como novas pessoas e gerações, de Londrina e também da Missão do Espírito Santo em Maringá.


O rev. Satoshi Kobayashi, que veio ao Brasil para a Jornada Teológica, fez a pregação. No momento do ‘Abraço da Paz’, cantamos e dançamos novamente com a canção ensinada pela revda. Irene na Jornada ⎼ ‘A Paz de Cristo’. Foi um belo dia de encontro, alegria, bênçãos e festa. Graças damos a Deus, pela sua paz e alegria.



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