Inspirada pelo compromisso assumido pelo papa Paulo IV e pelo então arcebispo de Cantuária, dr. Michael Ramsey, a Conac é uma importante iniciativa no diálogo entre católicos e anglicanos no Brasil
“A Comunhão construída por aquilo que já partilhamos tem em si uma dinâmica interna que, animada pelo Espírito Santo, nos impele a avançar... Uma comunhão de compromisso conjunto com a nossa missão comum no mundo.” Este trecho do documento do Encontro Internacional em Mississauga, em 2001, no Canadá, realizado entre representantes das igrejas Católica Romana e Anglicana, parece traduzir bem o status da caminhada do diálogo que vem sendo realizado entre essas duas tradições cristãs ao longo da história recente.
No Brasil, uma iniciativa nasceu há 40 anos para impulsionar esse diálogo: a Comissão Nacional Anglicano-Católica Romana (Conac). A exemplo de outras comissões nacionais que promovem o diálogo bilateral entre as duas confissões, a comissão brasileira é acompanhada pelo Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos (Igreja Católica) e pelo Centro Anglicano de Roma (Igreja Anglicana). A inspiração dessa iniciativa está diretamente ligada ao compromisso de diálogo assumido pelo papa Paulo VI e pelo arcebispo de Cantuária, dr. Michael Ramsey, em 1966. Foi desse compromisso que surgiu a Comissão Internacional de Diálogo entre a Comunhão Anglicana e a Igreja Católica Romana.
Em entrevista à revista Ekklesía Brasil, da Editora Cidade Nova, falando em nome da Conac, o bispo anglicano Cézar Fernandes e o padre católico José Bizon contaram que, embora tivessem existido iniciativas informais ao longo da história, somente a partir do Concílio Vaticano II é que esse diálogo se iniciou de maneira formal, depois de cerca de 500 anos de distanciamento, a começar justamente pelo incentivo à criação dessas comissões nacionais bilaterais.
Eles explicaram que o principal objetivo é estreitar a relação fraterna entre as duas igrejas mediante o diálogo sobre temas de interesse comum. Nesse sentido, ao longo da história da Conac, foram abordados temas – em geral, indicados pelas respectivas comissões internacionais das duas igrejas – como os sacramentos do Batismo e da Eucaristia, as questões dos ministérios ordenados, do dom da autoridade e da sinodalidade, assim como do papel da Bem-aventurada Virgem Maria, entre outros assuntos de caráter ético, eclesiológico e teológico. Os momentos de estudo permitiram um conhecimento recíproco sobre como cada uma das igrejas trata essas temáticas.
Além disso, a Conac realizou algumas ações concretas como uma importante contribuição para a organização e divulgação da Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2000; a promoção de encontros entre bispos das duas igrejas e, especialmente, o trabalho que culminou com o reconhecimento recíproco do sacramento do Batismo.
Somam-se a essas ações a contribuição nas celebrações da Semana de Oração pela Unidade Cristã e do Dia Mundial de Oração. Neste momento, a comissão está especialmente empenhada na divulgação do seu aniversário de 40 anos, o que deverá ser celebrado solenemente com uma Tarde de Oração, em 18 de dezembro.
Nos dois últimos anos, em função da pandemia de Covid-19, a comissão foi obrigada a paralisar as suas atividades, as quais estão sendo retomadas agora com a atual versão da Conac.
Por Luís Henrique Marques
Reproduzido da Revista Cidade Nova, novembro de 2022.
Leia também:
40 Anos de diálogo entre católicos e anglicanos no Brasil, CNBB Regional Sul 1, 21/10/2022.
Papa Francisco e Justin Welby: Declaração Comum anglicano-católica, portal Encontro com Cristo, 05/10/2016.
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